O Grupo de Trabalho Ecomulheres teve o
objetivo de mostrar a organização do processo de reciclagem no Rio Grande do
Sul
O objetivo deste trabalho foi narrar a
história da organização da reciclagem no Rio Grande do Sul, a partir de dois
pontos principais: 1) o olhar feminino, visto que a reciclagem relaciona-se ao
trabalho de mulheres, e 2) a importância da (re)ciclagem (no sentido de
devolver ao ciclo) de resíduos sólidos produzidos num contexto
capitalista-consumista. A história começa na Ilha Grande dos Marinheiros com o
“chamado de Irmã Marie Eve”, um Irmã das Cônegas de Santo Agostinho, que ao
desenvolver o artesanato com mulheres e cuidar de crianças da Ilha Grande dos
Marinheiros, percebe a necessidade de um trabalho com o lixo. Irmã Marie Eve
pede ajuda a Irmão Antônio e Matilde Cecchin.
Desse chamado inicia-se um
trabalho maior junto à comunidade, são formados grupos de base para o preparo
de pães, confecção de acolchoados e a organização e fundação do primeiro Galpão
de Reciclagem de Porto Alegre (1987). Deste primeiro galpão, o trabalho da
reciclagem estende-se para outros bairros de Porto Alegre – como acontece na
Vila Santíssima Trindade – e outras cidades do estado – Santa Maria, Novo
Hamburgo, Dois Irmãos e Caxias. Nessas primeiras etapas do trabalho, o lixo
reciclável era recolhido por parte da sociedade civil interessada em ajudar na
reciclagem. Esses materiais eram recolhidos e armazenados em escolas, igrejas e
paróquias e transportado pelos próprios catadores aos galpões de reciclagem.
Tal iniciativa de reciclagem passa a chamar a atenção de convenções ambientais
internacionais, como a ECO 92.
Ao mesmo tempo, uma série de entidades nacionais
passam a se interessar pelas Associações de Catadores e o trabalho de reciclar.
Entre estes podemos citar o trabalho de Nilton
Fischer, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a
Educação Popular nos Galpões, especialmente no bairro Rubem Berta/Porto Alegre.
Nos anos 1990, inicia-se um processo de
organização dos recicladores, a Federação das Associações de Recicladores do
Rio Grande do Sul (FARRGS), que foi desestabilizada pelo Movimento Nacional dos
Catadores (MNC), atual movimento representativo
desses trabalhadores.
Daqui em diante, um processo importante acontece, o lixo
passa a ser centralizado e distribuído pelo Departamento Municipal de Limpeza
Urbana (DMLU), o lixo torna-se responsabilidade
do poder público e, inclusive, troca de nome, passa a ser chamado de
resíduo sólido, ganhando até mesmo uma política pública para sua gestão, a
Política Nacional de Resíduos Sólidos (2010).
O fechamento
desta história dá-se com a atual situação dos galpões de reciclagem e de seus
trabalhadores. A metodologia utilizada no desenvolvimento desta pesquisa é a
sistematização de experiências, na qual pautamo-nos em trabalhos já
desenvolvidos e registrados a partir de jornais, textos, vídeos, fotografias,
publicações em livros, anais de encontros, mas também na memória e na
experiência de mulheres e homens que compartilharam essa história. Para tanto,
além de compilar dados secundários, conduzimos entrevistas semiestruturadas com
catadoras, Irmãs e assessores do trabalho de reciclagem e militantes da causa.
A proposta é propiciar o relato histórico da organização reciclagem no RS a
partir das experiências aqui sistematizadas e possibilitar uma reflexão sobre o
processo de (re) ciclagem, tendo em vista que este não perpassa somente os
resíduos sólidos, mas a vida de tantas mulheres e famílias que atuam na limpeza do planeta.